Wi-Fi 7: prometeram o paraíso da internet — e entregaram mesmo?
Se você piscou nos últimos meses, já tem um novo padrão de internet sem fio te encarando: o Wi-Fi 7. Ele chegou prometendo velocidades insanas, conexões estáveis como fibra e latência microscópica — quase como se a internet finalmente tivesse aprendido a voar. Mas será que o hype se justifica ou estamos só diante de mais uma promessa exagerada do mercado tech?
A resposta, como quase tudo na tecnologia, é: depende. Depende do seu roteador, do seu dispositivo, da sua operadora e, claro, da quantidade de paredes entre você e o sinal. Mas vamos destrinchar isso com calma, porque o Wi-Fi 7 não é só uma versão levemente turbinada do Wi-Fi 6 ou 6E. Ele tem truques novos e muito mais ambiciosos.
A principal estrela do show é a capacidade de chegar até 46 Gbps em condições ideais. Isso é quase cinco vezes mais rápido que o Wi-Fi 6 padrão. É claro que, na prática, ninguém vai atingir esse número em casa, mas o salto ainda é gigantesco. Essa performance é viabilizada por tecnologias como MLO (Multi-Link Operation) — que permite usar múltiplas bandas ao mesmo tempo — e canais de até 320 MHz, o dobro do Wi-Fi 6E.
Outro ponto crucial: a latência. O Wi-Fi 7 é um sonho para gamers e usuários de realidade aumentada/virtual. Menos lag, menos jitter, mais controle. E para quem trabalha remotamente com videoconferências, automações em nuvem ou transmissão de vídeo 4K e 8K? O impacto é direto: mais estabilidade e fluidez, mesmo com vários dispositivos conectados simultaneamente.
Falando nisso: você já parou para contar quantos dispositivos têm conectados ao seu Wi-Fi neste exato momento? Celular, notebook, tablet, smart TV, Alexa, Chromecast, lâmpada inteligente, câmera de segurança… o Wi-Fi 7 é praticamente uma resposta ao crescimento desenfreado da internet das coisas (IoT). Ele gerencia melhor o tráfego simultâneo e promete manter todos esses gadgets felizes e bem alimentados com sinal.
Mas aí vem o balde de água fria: nem todo dispositivo vai “falar Wi-Fi 7” no curto prazo. Smartphones compatíveis ainda são poucos — no Brasil, modelos como o Galaxy S24 Ultra ou alguns modelos topo de linha da Xiaomi e ASUS estão começando a surgir com suporte. E o roteador? Bom, prepara o bolso: os modelos com Wi-Fi 7 estão na casa dos R$ 2.500 a R$ 5.000.
Além disso, para aproveitar todo o potencial da nova frequência de 6 GHz — que é onde o Wi-Fi 7 realmente brilha — você precisa que a ANATEL autorize e regule esse espectro com amplitude total. Embora o Brasil tenha sido um dos primeiros países a liberar o 6 GHz para o Wi-Fi 6E, o cenário do Wi-Fi 7 ainda está sendo ajustado.
Outro fator limitante é a sua própria conexão de internet. Você pode ter um roteador de outro planeta, mas se sua operadora entrega só 300 Mbps, esquece os 46 Gbps do padrão. O Wi-Fi 7 é um investimento para quem já está num ecossistema de alta performance — ou pretende migrar para ele nos próximos anos.
Por outro lado, quem trabalha com produção audiovisual, edição em nuvem, streaming profissional ou jogos competitivos, pode ver um ganho real imediato. Até empresas que usam sistemas de automação pesada em escritórios ou estúdios têm motivo pra sorrir.
O Wi-Fi 7 também coloca mais um prego no caixão do cabo Ethernet tradicional. A tecnologia alcançou um ponto em que, para a maioria dos usos, o cabo está virando peça de museu. Mas é bom lembrar: quando o assunto é estabilidade total para produção em tempo real, o bom e velho cabo ainda tem seu trono — principalmente no Brasil, onde a interferência eletromagnética urbana é alta.
No fim das contas, o Wi-Fi 7 não é só um capricho ou uma jogada de marketing. Ele é, sim, uma virada técnica significativa — mas que ainda está nos primeiros passos. Para o usuário médio, pode não valer a pena agora. Para profissionais e entusiastas de alta performance, pode ser um divisor de águas.
Se a história do Wi-Fi nos ensinou algo, é que cada nova geração começa cara, limitada e meio confusa. Depois, se torna padrão. Se você é do tipo que espera a onda passar antes de surfar, talvez o Wi-Fi 7 ainda não seja pra você. Mas se gosta de viver no limite da conexão e ver o futuro antes dele virar presente, vale a pena mergulhar nessa frequência.
								
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